Um planejamento financeiro tradicional normalmente contempla objetivos e metas de curto, médio e longo prazos. Neste artigo, o tema será abordado apenas sob a ótica do curto prazo através de ações simples e objetivas para manter o orçamento equilibrado.
Diante da crise que estamos passando pelo COVID-19, não sabemos quanto tempo será necessário para a plena recuperação da economia.Em vista disso, diante da possibilidade de redução ou perda de renda, elaborar um planejamento financeiro é fundamental para contornar este período. Vamos às dicas:
O primeiro passo para superar uma crise financeira é identificar o principal problema que está causando dificuldades. Neste momento, em virtude da crise do coronavírus e os seus desdobramentos, o principal problema financeiro para muitos brasileiros está relacionado com a perda ou a redução de renda.
A primeira coisa que nos vem à cabeça em situações de desequilíbrio financeiro (despesas maiores que receitas) é a reserva de emergência. Se você possui um colchão financeiro, esse é o momento para usar a poupança acumulada para fechar as contas do mês. A finalidade dessa reserva é oferecer proteção às pessoas em situações imprevistas ou inesperadas, como a que estamos vivenciando com a epidemia global.
Por outro lado, se você não possui reserva de emergência, será necessário criar um plano de contingência para ajudar a controlar uma situação de emergência financeira e, consequentemente, minimizar as consequências negativas. Em relação às pessoas que estão com o orçamento equilibrado e/ou possuem reserva de emergência, ainda sim é importante criar um plano de contingência do “pior cenário possível” (por exemplo a perda de renda familiar).
Uma das melhores maneiras para lidar com problemas financeiros é criar um orçamento. Um orçamento equilibrado é fundamental para o bem-estar financeiro.
O orçamento é um plano de gastos para o seu dinheiro que orienta suas decisões de gastos em itens importantes para você. Ao criar seu orçamento, é importante acompanhar suas despesas por pelo menos algumas semanas para ver objetivamente onde e quanto você está gastando. Especificamente em relação ao momento atual da pandemia, onde as preocupações estão focadas no curto prazo, é importante que o orçamento seja feito numa base semanal ou mensal. Você pode acessar uma planilha de planejamento financeiro no site da CVM: www.investidor.gov.br/guiafinanceiro.
Quando conseguir obter números realistas do seu orçamento, você poderá revisá-lo criticamente e procurar áreas onde poderá economizar. Neste momento onde várias pessoas estão em distanciamento social, homeoffice e várias lojas e comércio encontram-se fechados, verifique a possibilidade de racionalizar gastos, ou seja, cortar ou reduzir despesas não necessárias, tais como:
Busque, ainda, negociar melhores condições de pagamento de escolas, cursos e aluguel, seja redução do valor ou prorrogação do prazo. Na hipótese de prorrogação do prazo, fique atento, pois, em alguns casos, essa negociação pode envolver a cobrança de juros. Certifique-se de que é a melhor alternativa e compare opções.
Determinar suas prioridades financeiras é essencial para superar qualquer crise financeira. Essas prioridades ajudam você a tomar decisões difíceis, como pagar a fatura do cartão de crédito ou pagar seu financiamento imobiliário. A definição de prioridades o ajudará a resolver seus problemas financeiros e a voltar aos trilhos.
Uma alternativa pode ser negociar o adiamento do pagamento das dívidas com os credores. Neste momento de crise global, várias instituições estão prorrogando as datas de pagamento das dívidas, principalmente as de crédito pessoal como os empréstimos e o financiamento imobiliário. O financiamento imobiliário, por exemplo, poderá ter o pagamento suspenso por até 90 dias. Essa medida não inclui dívidas de cartão de crédito e cheque especial nem dívidas no boleto, como água, luz, gás e telefone. Essa alternativa pode ser uma boa opção para quem está com problema de fluxo de caixa. É importante confirmar se haverá mudança na taxa de juros. Para quem tem folga no fluxo de caixa, não vale a pena prorrogar o pagamento das dívidas.
Entre todas as dívidas, cuidado com o pagamento da fatura do cartão de crédito e do cheque especial, pois são os créditos com os juros mais altos do mercado. Evite a todo custo pagar apenas o valor mínimo da fatura do cartão. Pode sair caro. Analise todas as alternativas.
Se as contas não fecharem no final do mês ou se não tiver recursos para pagar o valor total da fatura do cartão de crédito ou para cobrir o cheque especial, procure opções para resolver o problema. Se não tiver reservas de emergências,avalie com atenção possibilidades de empréstimo pessoal ou consignado. Essas alternativas podem ter taxas de juros menores. Mas lembre-se sempre de comparar antes de tomar a decisão.
Suas prioridades financeiras devem incluir ainda novas formas de obter receita. Neste momento de crise e distanciamento social, é possível encontrar oportunidades no mundo online como: dar palestras, consultoria, dar aulas, vender comida, doces e salgados, fazer máscaras de pano. Pode ser um bom momento também para desapegar de itens e objetos parados em casa, sem uso ou utilidade. Considere negociá-los.
Para a maioria das pessoas, os problemas financeiros podem ser resolvidos através da redução de despesas e aumento da renda, ou uma pequena combinação de ambos, mas pode não ser a opção ideal para todos. Para os seres humanos, mudar o estilo de vida (hábitos e atitudes) é a tarefa mais difícil, mas, dada a situação de crise financeira, somos forçados a fazer mudanças.
Portanto, para lidar com isso, dê pequenos passos para atingir seus objetivos, pois grandes mudanças são sempre muito mais difíceis.
Por exemplo, se você tiver dívidas em dois cartões de crédito (R$ 1200 em um cartão com juros mensais de 10% e R$ 600 em outro com 5% de juros mensais) e só R$ 1000 disponíveis para pagamento, o que deve ser feito?
Solução:
a) Financeiramente, é melhor priorizar o pagamento da dívida com a maior taxa de juros. Restariam ainda R$ 200 para quitar o primeiro cartão. Neste caso, há pessoas que ao optar por pagar a maior parte da dívida mais cara, percebem que ainda tem duas dívidas em aberto, se desmotivam e perdem a disciplina e o foco para quitá-las. Com o passar do tempo, as dívidas voltam a crescer novamente.
b) Sob o ponto de vista emocional, algumas pessoas escolhem quitar a dívida de menor valor e esperar o próximo mês para pagar a dívida mais cara, ainda que pague mais juros. Isso ocorre devido ao fato psicológico de imaginar que agora resta apenas uma dívida,e não duas.
Portanto, não há resposta certa neste caso. Embora seja recomendado optar pelo pagamento da dívida com maior juros, a melhor opção é sempre aquela que vai proporcionar a motivação necessária para a pessoa agir (pagar).
Outra situação que deve ser avaliada é a disponibilidade de saldo em conta corrente. É preciso avaliar se vale a pena pagar uma dívida e ficar com o saldo zerado, correndo risco de ter que contrair outra dívida se ocorrer algum imprevisto.
Depois de ter ideias para resolver suas dificuldades financeiras, elabore um plano realista para atingir suas metas financeiras com um cronograma de semanas ou meses para acompanhar seu progresso,principalmente neste período de epidemia e crise global. Por exemplo, se seu objetivo é pagar uma dívida de R$ 3.000, faça um plano e crie uma linha do tempo com a quantia que você pagará todos os meses para que você possa pagá-la no prazo desejado. Avalie seu plano de tempos em tempos, veja se você está progredindo em direção a seus objetivos e esteja aberto à possibilidade de ajustá-lo, se necessário.
Se você tem uma carteira de investimentos, reflita bem se este é o melhor momento para resgatar as suas aplicações, principalmente as de renda variável. O mercado de ações é cíclico, sempre haverá momentos de alta e de baixa. Tenha paciência para esperar o melhor momento.
Se você precisar resgatar recursos de alguma aplicação financeira, priorize o resgate dos investimentos de alta liquidez, baixa volatilidade e baixo risco. Estas são as características das aplicações da reserva de emergência, tais como: caderneta de poupança, Tesouro Selic, CDB de liquidez diária e Fundos DI.
Por outro lado, imagine, por exemplo, que você tenha necessidade de recursos para pagar dívidas, possui investimento em renda variável (ações ou fundos), mas não tem recursos disponíveis em produtos de reserva de emergência ou renda fixa. Neste caso, se o rendimento da sua carteira de renda variável estiver negativo, você terá que avaliar se vale a pena realizar a venda de ações com prejuízo ou pagar juros das dívidas existentes.
Durante esse período de distanciamento social, aproveite o tempo em casa para buscar uma especialização. Várias empresas disponibilizaram cursos online gratuitos sobre diversos temas para ajudar as pessoas neste período de confinamento. Trata-se de uma excelente oportunidade para adquirir mais conhecimento, desenvolver uma nova habilidade e melhorar o seu currículo. Conhecimento é poder.
Não entre em pânico. Tente controlar a ansiedade. O medo é o pior conselheiro financeiro. Algumas simples ações são bastante úteis neste momento: evite um bombardeio de informações; estabeleça uma rotina de home office; use a tecnologia para se aproximar das pessoas; aproveite a quarentena para se dedicar a atividades que gosta (ler, ver filmes).
Infelizmente não sabemos quanto tempo vai durar a pandemia, mas essas ações serão a primeira “linha de defesa” em relação à recessão da economia e uma possível redução ou perda de renda.
Cuide de suas finanças pessoais e do seu bem-estar financeiro!Seus problemas em relação ao dinheiro podem ser sanadosse você mantiver o autocontrole e adotar ações sólidas. Os benefícios de lidar com a crise financeira (economizando mais, pagando dívidas) melhorarão não apenas sua autoconfiança, mas também seu humor geral.
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Além disso, você, investidor, pode sempre entrar em contato com a CVM para consultas, reclamações ou denúncias, pelos canais de atendimento disponíveis no site da Autarquia, www.cvm.gov.br.